HRDs, Climate Change and a Just Transition – Guest Blog from Amanda da Cruz Costa

Brazilian climate activist Amanda da Cruz Costa stands on the bank of a polluted stream filled with trash and murky water. Around her are densely packed brick houses with exposed cement and corrugated metal roofs, alongside tall grass and graffiti-covered sheet metal fencing. She wears a white T-shirt with the logo of her organisation, Instituto Perifa Sustentável, ripped light blue jeans, and looks directly at the camera. Photo courtesy of Amanda da Cruz Costa.
This is a tabbed section of 2 tabs with each tab content area containing the same text but translated to a different language

Desafios de uma jovem ativista climática no Brasil

Quando eu tinha 8 anos, eu vi a minha mãe chorar.

Era de madrugada, acordei assustada com o barulho do trovão decorrente de uma tempestade. Senti medo, frio na espinha e chamei a minha mãe. Diferente das outras vezes, ela não veio ao meu encontro. Portanto, juntei toda a coragem que tinha, agarrei meu ursinho de pelúcia e desci da cama. Vesti as minhas pantufas, me enrolei no cobertor e caminhei em direção ao quarto dos meus pais. No entanto, eu não encontrei ninguém.

Me sentindo levemente confusa, escutei a voz distante da minha mãe, vindo do andar de baixo, na cozinha. Desci as escadas da casa depressa, pulando os degraus de 2 em 2, mas antes que a minha mãe pudesse me ver, eu vi a cena que ficou marcada na minha alma por anos: a cozinha estava alagada! Parte da louça que ficava na parte direita dos armários havia caído e se espatifado no chão, espalhando cacos de vidro por todo o canto do cômodo. A parede parecia uma cachoeira, minha mãe chorava e dizia que não aguentava mais, enquanto a minha avó paterna puxava a água para fora de casa com um rodo, dizendo para a minha mãe respirar, pois logo tudo ficaria bem.

Voltei para o meu quarto depressa, ajoelhei perto da cama e pedi para Deus me desse forças para ajudar minha família.

Depois de 20 anos, aqui estou eu: meu nome é Amanda Costa, tenho 28 anos e sou da Brasilândia, uma das maiores favelas do estado de São Paulo. Fundei o Instituto Perifa Sustentável, atuo como Jovem Embaixadora da ONU, sou Consultora climática do British Council e da LALA – Latin America Leadership Academy. Por conta do meu engajamento ambiental, fui convidada a palestrar no famoso palco do TEDx sobre Racismo Ambiental,  me tornei LinkedIn Top Voices e LinkedIn Creator, entrei na lista da revista Forbes Under 30, Bantumen – 100 pessoas de língua lusófona mais influentes do mundo e esse ano, me tornei fellow da Columbia Women’s Leadership Network, uma comunidade global de lideranças femininas que estão transformando o mundo!

Para mim, o ativismo climático não foi uma escolha, foi um chamado. No começo eu não sabia muito bem o que deveria fazer, mas decidi caminhar e encontrei a minha jornada. Ser ativista climática no Brasil não é fácil, somos atravessados constantemente por diversos desafios, como a eco-ansiedade diante do futuro, a invisibilização das vozes periféricas e a necessidade de resistir mesmo quando o sistema insiste em nos silenciar. Além disso, ativistas, principalmente mulheres negras e indígenas, precisam lidar diariamente com um cenário de profundas desigualdades sociais, intensificação do racismo ambiental, violências estruturais, falta de representatividades nos espaços políticos-institucionais e barreiras gigantes na captação de recursos para as suas ONGs e projetos.

De acordo com o relatório anual de 2023 da ONG Global Witness, Brasil é o segundo país que mais mata ativistas no mundo, ficando atrás apenas da Colômbia. Atuar num país extremamente violento com quem ousa questionar o status quo é enfrentar diariamente a criminalização, o silenciamento e o risco de ter a própria vida ceifada apenas por defender os direitos humanos e ambientais do seu povo.

Ainda assim, escolho continuar lutando. Luto pelos meus, com os meus e para os meus. Luto porque acredito que um futuro justo e sustentável não nasce apenas nos gabinetes de Brasília ou nas negociações internacionais da ONU, mas também nas vielas da Brasilândia, nas aldeias indígenas, nas comunidades quilombolas e nas hortas comunitárias de cada periferia esquecida pelo sistema tradicional. É nesses lugares que floresce a ousadia, a coragem e a esperança em criar um mundo onde ninguém seja deixado para trás.

Ser uma jovem negra e periférica é carregar o peso de múltiplas batalhas, mas sei que carrego a força dos meus ancestrais, líderes corajosos que lutaram antes de mim e pavimentaram a estrada para que eu pudesse seguir. Portanto, sigo em movimento: para que nenhuma criança precise ver sua mãe chorar diante de uma enchente; para que comunidades inteiras não sejam condenadas a viver entre o lixo, a lama e a fumaça; para que a vida (em todas as suas formas) seja preservada.

Eu sonho com um mundo inclusivo, participativo e sustentável. Um mundo com parcerias intergeracionais, onde a juventude seja também considerada tomadora de decisão e que nós, sociedade civil organizada, transforme nossas maiores dores em ações práticas, projetos territoriais, programas de formação política, campanhas comunitárias que chegue nos grupos historicamente esquecidos pelo sistema.

A minha trajetória me ensinou que bem-viver não é luxo, é direito. Como Nego Bispo afirma, é viver em harmonia com a comunidade, com a terra e com o tempo, e isso só é possível quando exigimos políticas públicas que reconheçam nossa humanidade. Como Paulo Freire nos lembrou, “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão”.

E eu sigo nesse compromisso: lutar ao lado das juventudes, das mulheres negras, das comunidades tradicionais e periféricas. Minha caminhada é a prova viva de que, quando unimos fé, coragem e comunidade, até os sonhos mais altos podem criar raízes e transformar o mundo!

Amanda da Cruz Costa



Antes da apresentação do seu relatório à Assembleia Geral da ONU em outubro de 2025, a Relatora Especial convidou pessoas defensoras dos direitos humanos que trabalham sobre as alterações climáticas e uma transição justa a partilharem as suas ideias, experiências e esperanças em blogs convidados. Estes estarão acessíveis em: https://srdefenders.org/human-rights-defenders-and-climate-change/

Human rights defenders working on climate change and a just transition

Actions

Submit Information

Submit confidential information on a HRD at risk

Communications and Press Releases

How do communications and press releases work?

Contact Mary

Request a meeting with Mary or her team